A MACO está chegando, trazendo discussões, aprendizados,
cultura e arte. Mas este não será apenas um momento de mediação de conhecimentos
teóricos. Hei seu moço, não mesmo. Aliás este já não é apenas um momento de
discussões pragmáticas, afinal esse texto por si já não o faz. A idealização
deste projeto não foi uma mera necessidade técnica; a vontade dos que fazem
esta equipe não é apenas profissional; o caráter com que vamos ao encontro do
Sertão não é de mera casualidade, longe disso. Este encontro foi imaginado,
idealizado e gestado no ventre dos nossos asseios por anos a fio.
O que dizer da energia recebida dos sertanejos durante os
dia de inscrição, durante nossos encontros regados a extrema cordialidade e
satisfação mutua? O que argumentar contra a receptividade e o carinho com que
fomos recebidos em suas comunidades, em suas casas? Como esquecer das conversas
francas, dos sorrisos largos e dos causos alegres contados a meia sobra na tarde
que só Santa Rita tem? Haveria como ignorar o entusiasmo encantador e cheio de
propriedade que encontramos em Santa Cruz da baixa Verde? Teríamos como
esquecer a disponibilidade, a alegria e a força sincera que emana dos olhos dos
que vivem em Jatiúca?
É terra, seu moço. É da Terra que sai o que nos leva ao
Sertão do Pajeú. É dela que todos partilhamos o encantamento necessário para
aprendermos e é ela que nos convidou, organizadores e participantes, a estarmos
juntos. Foi ela que nos fez provar do sabor da simplicidade e é nela que
provamos a vitalidade dos nossos sonhos. Foi o chão do Pajéu quem fez o convite para nos reencontrarmos mais uma
vez com a essência humana que presente Terra e nos invade sempre que buscamos
verdadeiramente estreitar nossos vínculos com ela.
Eu sei este não é um texto muito informativo, eu sei que
estamos apenas divagando sobre subjetividades. Pois é moço, é isso mesmo. Mas é
através deste pequeno mergulhar na subjetividade, através deste prosaico “papo
de quinta” que eu te convido de novo a aprender mais sobre a sua terra. É com
um pouco de lirismo também, por que não? Que eu te pergunto, você conhece a sua
terra? Você conhece, de fato, o tipo de relação que está estabelecida entre
você e Ela?
E aí então, você me questiona:
_E a MACO vai ser um momento místico?
E eu te digo que ela será pautada pelo conhecimento, pelo
trabalho, pela discussão... Mas também te digo que haverá momentos de busca pelo
resgate espiritual entre o Homem e a terra, entre o Homem e a origem de todos
os frutos que alimentam sua vida.
E você me pergunta intrigado:
_Como assim, e isso tem nome?
E entre risos repondo-lhe que sim. Mas isso já é assunto
para outro dia, pra outra quinta, para outra prosa. “Prosa de quinta” por que não? No momento vou
deixar a terra falar.
Regresso
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
(Miguel Torga)
(Miguel Torga)
Nenhum comentário:
Postar um comentário